Não sei muito bem porque publiquei essa carta, mas a única certeza que tenho é que o meu coração precisava falar.
"Quando quiser, não porque te amo, mas porque posso vir a te amar. E assim acreditei quando olhei para você no nosso último encontro. Meus olhos, tenho certeza, eram olhos de felicidade e satisfação, que até então, meu cérebro não havia registrado. Era uma gama de cores muito simples que eu via naqueles dias, as cores que preenchiam seu corpo e a única cor que sobrava quando você apagava as luzes e vinha me beijar. Era tudo bom demais para que a dúvida permeasse meus pensamentos. Tudo aconteceu na primeira noite como nas novelas desprovidas de realidade e senso crítico. O rádio tocava apenas músicas românticas, eu havia cortado, não sei por que, muito bem as unhas horas antes. Havia lavado o cabelo com todo cuidado, usado o melhor perfume, colocado uma roupa íntima que quando exposta não me envergonhasse, tudo sem planejar te ter na minha vida ou estar na sua cama. E o rádio não deixou por menos, quando meus sentidos registravam a melhor das sensações que você causava no meu corpo, fez questão de tocar minha música romântica preferida. Tudo para que aquele dia não fosse esquecido. E seus olhos então. De um castanho tão simples e encantador que até o mais azul dos olhares se acanharia, a luz deles era como uma resposta, nas estreitas linhas das suas pálpebras eles me sussurravam desejos que meu corpo atendia sem discutir, deixava cada dúvida minha despedaçada e me afirmava que era você a pele que faltava junto a minha. Seu sorriso se parecia com uma arma letal, feita para causar a maior das devastações na minha natureza, criando o maior dos problemas no que até aquele dia a minha mente havia registrado como alegria. Tudo de uma simplicidade mortal, mas que ninguém se esforça para encontrar ou ter novamente, nem mesmo você. Esse foi o maior dos problemas, nem mesmo você. Eu que contava com você por pelo menos mais alguns dias, não para apenas me divertir com sexo e promessas, mas para dar risada de coisas tolas, fingir ver TV enquanto nossas mãos redescobriam nossos corpos, atuar como pessoas normais na multidão enquanto nosso tato lutava para ser apenas um novamente, procurar substitutos para os nossos corações enquanto eles se trancavam em um único peito. Tudo isso era de graça, mas você quis por um preço em tudo, uma etiqueta, um rótulo que eu não podia me desvencilhar de ser, um boboca apaixonado. Seus medos tornaram-se a minha certeza de que todas essas alegrias não se repetiriam. Seu medo de que eu me machucasse porque você não conseguiria gostar de mim da mesma forma, fez minhas lágrimas se revoltarem contra mim. Seus argumentos sobre como eu me envolvi rápido demais e você não e principalmente sua irritante certeza em não acreditar que você pudesse cair dessa forma por mim como cai por você maltratou minha esperança que eu havia depositado em nós. Espero que algum dia alguém mereça tudo que alimentei por você. Porém o mais engraçado em tudo isso foi o tempo, talvez ele tenha sido o vilão em toda anedota, enquanto os corações normais se encantam em um mês, seis meses, um ano, uma vida, o meu bateu em três dias o que todos esses corações não irão bater nunca. Sim a culpa é minha e do meu coração precoce. Sim a culpa é sua e do seu carinho interminável, do seu caráter incorrigível, do seu cuidado em não me fazer sofrer me abandonando, do seu abraço sem igual tão apertado que me fazia ter certeza que o sempre existia nos segundos que ele durava. Apenas mais um amor de férias, de verão, de semana. Não, não foi apenas mais um."
"A tempestade que chega é da cor dos seus olhos castanhos..."
