Eu quero

"A bordo de sua vida me fiz passageiro eterno."

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Beatlemania!


Entender o porque do sucesso desta, que com certeza foi a maior banda que este planeta viu, assim como toda estrutura que paramenta os grandes espetáculos de Rock 'n' Roll hoje, e o porque da devoção interminável aos FabFour e aos que ainda continuam entre nós, que diga Sir Paul McCartney, se torna mais fácil nas linhas a seguir. Essa é a Beatlemania, que cravou no coração da América e na alma de todos o poder que a música tem!

Matéria em duas partes,
fonte: A Hard Day’s Night in América, de A. Rayl

O Desembarcar

É difícil acreditar, mas está se completando trinta e seis anos desde que os Beatles fizeram sua primeira excursão, costa a costa, pelos Estados Unidos. Em fevereiro de 1964 visitaram o país, participando do Ed Sullivan Show e se apresentando em dois teatros, com ingressos disputados a tapa. A imprensa declarava na época, com frases de efeito, que havia uma "invasão britânica" e concluía que os Beatles "conquistavam a América." Entre aquela chegada em fevereiro e a seguinte, em agosto, os Beatles não descansaram um minuto. Gravaram um disco e filmaram o longa-metragem "A Hard Day’s Night"; excursionaram pela Europa e Austrália e ainda acharam tempo para compor e iniciar as gravações de algumas músicas que acabariam no álbum "Beatles For Sale". No dia 18 de agosto, chegaram na costa da Califórnia com o cansaço estampados nos rostos.




Apesar de toda a confiança que o empresário Brian Epstein depositava na banda, havia nervosismo e incertezas em todos. Uma coisa é tocar em alguns poucos centros, como fizeram em Nova York e Washington D. C. em fevereiro, mas varrer o país como estavam por fazer, era outra história. Os Rolling Stones tentaram o feito em junho, em menor escala, e fracassaram terrivelmente. É bom lembrar que a esta altura dos acontecimentos, os Stones já eram dados como mais populares em Londres do que os Beatles. Na pergunta feita por George Harrison ao repórter do "Liverpool Echo", "A América tem de tudo, porque eles iriam nos querer?", pode-se perceber a incerteza na mente do grupo.



A proposta certamente era assustadora. Os quatro rapazes de Liverpool teriam que se apresentar em 26 casas, quase todas estádios ou arenas, fazendo 31 shows em 27 dias. Teriam direito a um total de sete dias de descanso, o que os obrigaria a tocar mais de uma vez por dia. Mas antes desta louca maratona musical iniciar, houve um show de negociações estrelado pelo grande artista invisível ao público, Brian Epstein. Foi o seu trabalho de conseguir que a Capitol passasse a dar uma maior atenção aos Beatles e divulgasse mais "I Want To Hold Your Hand", que detonou a onda que culminaria com a chegada dos Beatles no Ed Sullivan Show. Depois desta aventura americana realizada em fevereiro, os convites eram tantos que tomaram quase cinco meses de planejamento.



Se em 1964 o maior artista americano era possivelmente Bob Hope, que cobrava cerca de US$15,000 por show, a excursão dos Beatles exigia o mínimo de US$20,000, ou entre 40 a 80% da bilheteria. Nos Estados Unidos, naquele ano, a faixa etária de maior população beirava os 17 anos e os organizadores dos espetáculos sabiam que fariam dinheiro, não importasse as exigências. Difícil para alguns foi convencer os bancos a financiar o adiantamento necessário. Entre as ofertas, Epstein deu preferência às cidades onde haviam os maiores índices de vendagem de discos dos Beatles.



Uma de suas exigências na época causou espanto e irritação para muita gente. O valor teto de um ingresso teria que ser de US$5.50, assinalado em contrato. Brian objetivava garantir a presença da garotada e ao mesmo tempo não queria que uma excessiva exploração danificasse a boa imagem que o grupo conquistara. Era certo que os Beatles poderiam cobrar o dobro ou triplo deste valor nos ingressos melhores, mas Epstein, com o consentimento da banda, não permitiu. Na prática, muitas casas venderam ingressos a US$6.50, e na mão de cambistas no próprio dia dos shows havia ingressos sendo vendidos a US$15, US$25 e até US$35.



Outras exigências sem precedentes tratavam das medidas mínimas do palco em que eles iriam se apresentar, detalhes dos equipamentos que teriam que ser fornecidos e a garantia de um engenheiro de som de primeira linha para cada espetáculo. Também sob contrato, a garantia de no mínimo cem policiais uniformizados dentro do estádio ou arena durante o evento, para garantir a segurança de todos. Além disso, camarins exclusivos para os Beatles e demais artistas que se apresentariam antes deles, completos com quatro camas portáteis, espelho, geladeira de isopor, uma televisão portátil e várias toalhas limpas. Como explicaria Norman Weiss, braço direito na organização da excursão, diretamente abaixo de Epstein, "Sabíamos que uma vez dentro do local do evento, eles não poderiam se locomover livremente, tendo que se contentar em ficar presos dentro do camarim por várias horas. Todas as exigências vinham das necessidades e não de vaidade." Exclusivamente para os Beatles, haveriam duas limousines, com ar condicionado e chauffeur.



Foram contratadas, para abrirem os shows, as bandas The Righteous Brothers, Jackie Del Shannon, The Exciters e o Bill Black Combo, que abriria o set e depois serviria de banda de apoio para as demais atrações. Para viajar de um lado para o outro, foi utilizado pela primeira vez o expediente de um avião exclusivo. Foi alugado através da American Flyers, firma que mantinha contratos com o exército americano, um Lockheed Electra II com capacidade para noventa e dois passageiros, pela quantia de $75.000 dólares.



Foi também contratada uma firma exclusivamente para cuidar das acomodações de toda troupe nas diversas cidades que faziam parte da excursão. Se a segurança no local das apresentações estavam garantidas sob contrato, a segurança do aeroporto até o local do evento, e para os hotéis, era outro assunto a ser lidado com precaução e estudo. Foi então contratado Ed Leffler, homem que trabalhou para a inteligência do exército americano, para negociar e planejar a segurança com as diferentes polícias de cada cidade, em cada estado. Até o detalhe de ter ternos feitos exclusivamente para essa excursão, meia dúzia para cada Beatle, não foi esquecido.



As vendas de ingressos bateram todos os recordes na história do "music business". Para se ter uma idéia, depois de garantir que seria fisicamente impossível vender todos os ingressos do Hollywood Bowl em um dia, os ingressos se esgotaram em três horas. Nunca antes acontecera nada parecido com a Beatlemania. Quando a organização dentro do Hollywood Bowl tentara negociar um segundo show, já não havia mais datas e a oferta foi recusada.



Sobre esses Estados Unidos que os Beatles encontrariam; no dia 2 de julho de 1964 o presidente Lyndon Johnson assinaria o ato de direito civil que considerava ilegal a discriminação de trabalho baseado em cor, sexo ou religião. Por meio deste decreto, seria obrigatório o fim das divisões de locais exclusivamente para brancos ou negros. Não só em restaurantes e bares, mas em escolas como também nos transportes públicos. Levaria anos até que esta situação nova fosse realmente assimilada e, durante o verão daquele ano e o dos anos seguintes, haveria guerras estourando nos guetos, mantendo a questão racial longe de ser resolvida.



No dia 1º de Agosto, o filme "A Hard Day’s Night", estreava simultaneamente na Inglaterra e nos Estados Unidos. No dia 2 os jornais falavam de um destroyer americano sendo atacado por navios norte-vietnamitas. No dia 4, a retaliação americana vem com sessenta e quatros aviões realizando bombardeios no Vietnã do Norte e, no dia 7, o Congresso dava plenos poderes ao presidente para tomar ações militares em suporte aos aliados americanos no sul asiático. Dias depois começaram a vazar histórias de que foram os Estados Unidos que provocaram o ataque ao seu destroyer. Surgem acusações dizendo que o destroyer americano acompanhou navios sul-vietnamitas enquanto estes atacavam os navios norte-vietnamitas, a 10 milhas da costa do norte do Vietnã. Depois apareceriam dúvidas se o navio americano sequer fora atacado.



Estes eventos desencadearam desconfiança nas subsequentes informações oficiais dadas à nação pelo governo americano. Criou-se o clima propício para o início do maior movimento anti-guerra, politicamente orientado e executado pelo o que se passou a chamar inicialmente de "a geração jovem" e posteriormente de "hippies". Em Times Square, houve uma marcha de "jovens esquerdistas", conforme apregoado pela mídia, para demonstrar o descontentamento com a política externa empregada em relação ao Vietnã. No dia 16 de agosto, em San Francisco, Lowell Eggemeier, de 27 anos, em um ato de protesto, desafio e desobediência civil, entra no Palácio da Justiça e, de frente ao balcão de informações, encara o atendente e prontamente acende um "cigarro" de maconha, sendo preso em seguida. Seu ato serviu para mexer com a opinião do público jovem, e outros atos de desobediência cívica seriam a tônica da década. No dia 18 de agosto, os Beatles chegavam a San Francisco.



Os Beatles, com seus cabelos compridos, se tornaram, mesmo sem prever, um fator representativo entre os jovens. O cabelo comprido não é ainda uma moda mas é encarado como uma forma de protesto. Uma maneira de demonstrar descontentamento com o sistema imposto. Se em fevereiro tudo era uma "adorável jogada publicitária" para os olhos americanos, os adultos já estavam paranóicos e insatisfeitos com a ressonância carismática que os Beatles causavam a suas crianças. A igreja culpava o demônio e os direitistas culpavam os comunistas. Em suma, a América pegava fogo.



As rádios anunciavam desde o início da manhã, "Hoje é o Dia B", uma alusão ao Dia D e à invasão da Normandia, ponto da virada da Segunda Guerra Mundial. Aqui, o Dia B era de Beatles mesmo. Todas as estações entoavam músicas dos Fab Four e o aeroporto de Los Angeles foi repentinamente invadido por uma horda de jovens estimada em mil crianças, que faziam um barulho ensurdecedor após uma estação soltar no ar o local e horário de sua chegada. Depois de uma viagem de quinze horas no Boeing 707 da Pan Am, o quarteto teve uma hora para esticar as pernas, passar pela alfândega, conversar com os repórteres e estar de volta no avião rumo a San Francisco, onde estreariam no dia seguinte.



No San Francisco International Airport, uma aglomeração estimada em cinco mil pessoas fervia no calor e na histeria. Muitos chegaram com até vinte e oito horas de antecedência. A segurança do aeroporto, como também a polícia local, nunca vira nada parecido e todos estavam tensos com o medo de uma possível catástrofe. Haviam outras quatro mil pessoas aguardando em frente ao Hilton Hotel, onde eles iriam se hospedar. Quando a polícia conseguiu levar os quatro Beatles para dentro do hotel e eles já se encontravam seguros dentro do seus quartos, todos relaxaram. Anunciaram então para o povo que cercava o hotel que eles poderiam ir para suas casas pois os Beatles já estavam em seus quartos e não fariam nenhuma aparição pública. Pronto, o pandemônio se instalou, com a criançada não aceitando o fato de ter perdido a chance de ver seus ídolos. Muitos invadiram o hotel em direção aos elevadores.



Em Cow Palace, no dia seguinte, enquanto o Bill Black Combo e demais atrações tentavam se apresentar para um público em coro gritando "We want the Beatles" (Nós queremos os Beatles), os rapazes estavam backstage conversando com a imprensa. Foram apresentados a Joan Baez e, mais tarde, Shirley Temple e sua filha de sete anos, Lori. Bastou eles subirem ao palco para que tudo ficasse claro, tamanha a quantidade de flashes das câmeras fotográficas. Para cada rapaz presente, havia pelo menos dez meninas, em um público pagante total de 17.130 pessoas, a maioria jogando "jellybabys" - uma bala colorida equivalente à nossa jujuba, que certa vez na Inglaterra os Beatles caíram na asneira de dizer que gostavam. As balas batiam nos rapazes e doíam. Tocaram seu set e logo após eles descerem do palco, duas limousines pretas fugiam pela saída dos fundos. Muitas crianças seguiram atrás mas os Beatles estavam na verdade presos em seus camarins, só podendo sair uma hora depois, escondidos em uma ambulância.



O pandemônio continuou em todas as cidades em que passaram. Em Las Vegas tiveram a oportunidade de conhecer Liberace e Pat Boone. Realizaram duas apresentações, uma às quatro da tarde, outra às oito da noite. Antes do segundo show houve uma ameaça de bomba que exigiu uma vistoria completa antes de ser considerada sem fundamento, e o show realizou-se normalmente. Em Seattle, uma menina conseguiu escalar até o palco mas foi rapidamente impedida de chegar perto dos quatro e levada embora. Depois do show, muitas das meninas chegaram até o palco para catar pedaços de balas pisadas pelos Beatles e guardar como souvenir. A limousine partiu, porém desta vez o povo conseguiu pular na frente, obrigando o veículo a parar. Foi um desastre; o teto cedeu e as portas foram arrancadas. Se tivesse alguém dentro do carro, teria possivelmente morrido, mas novamente os Beatles estavam encurralados em seus camarins, aguardando as horas passarem para poder fugir dentro de uma ambulância. Em Vancouver, tiveram que interromper o show duas vezes para pedir calma ao público e várias meninas foram levadas para uma área externa para se recuperarem. Do lado de fora do estádio, milhares de pessoas sem ingressos davam trabalho. Uma menina de onze anos foi encontrada chorando no meio do pandemônio. Aparentemente ela havia fugido de casa para ver os Beatles, mas não tinha nem ingresso nem meios de voltar.



No dia 23 de agosto o Hollywood Bowl abriria suas portas para rock 'n' roll pela primeira vez. Às sete da manhã começavam as primeiras filas para entrar. Os portões acabaram sendo abertos às 17:20, porque o Bowl já estava cercado por milhares de pessoas. No backstage, são apresentados à atriz Lauren Bacall. O show correu normalmente e a saída dos Beatles foi a mais tranqüila até então. À noite, hospedados em uma mansão que pertencia ao ator inglês Reginald Owens, houve uma festa de comemoração onde todos que faziam parte da excursão foram convidados. Entre os que compareceram e pernoitaram estavam Peggy Lipton e Joan Baez. Foram convidados também, pela parte administrativa que cuidava de entretenimentos, as mais belas fãs dos Beatles acima de 21 anos em Los Angeles.



A Capitol solicitou uma gravação do show com a intenção de lançar um disco exclusivamente para o mercado americano. Depois, ao ouvir o material, o projeto foi abortado, pois a barulheira dos 18.700 pagantes registrados estava mais audível do que a música. Surgiriam versões piratas no mercado a partir de 1970, quando a primeira gravadora pirata, "Trade Mark of Quality", foi inaugurada. No Brasil, de alguma maneira misteriosa, Big Boy, o maior e mais importante DJ na nossa história, conseguiu lançar oficialmente o disco "And The Beatles Were Born", que incluía um lado com o show do Hollywood Bowl e, no outro lado, miscelâneas de artistas variados como o show do The Who no Rock And Roll Circus. A Capitol acabaria lançando em 1977 um disco chamado Hollywood Bowl mas que mesclaria as apresentações dos Beatles tanto em 1964 quanto em 1965.



No dia seguinte, o presidente da Capitol, Sr. Livingston, que com sua esposa, a atriz Nancy Olson, patrocinavam uma fundação em prol da assistência para crianças hemofílicas, solicitaram aos Beatles comparecer a um encontro de caridade. A idéia era que, por uma doação de apenas US$ 25, as crianças poderiam passar parte da tarde com os Beatles. Nenhum adulto teria acesso sem a presença de uma criança e os convidados foram escolhidos a dedo. Quando a polícia foi contactada para a segurança, entrou em pânico. Armou barricadas, cercou a casa onde o evento seria realizado e deixou um esquadrão de choque de sobreaviso, escondido entre os arbustos durante a duração da festa. Para levar os Beatles até o local, uma residência com um imenso jardim em uma região bucólica, nenhuma firma de transportes quis o serviço. Até mesmo a Brink’s recusou, temendo ter um de seus caminhões destruídos. Finalmente uma limousine fez o translado, sob garantias de que qualquer prejuízo em relação ao carro seria ressarcido. Estiveram presentes uma pequena elite da California, como Dean Martin e seus filhos; Lloyd Bridges e suas crianças, entre eles o hoje também ator Jeff Bridges; Princesa Jasmin Khan, a filha de Rita Hayworth; Gary Lewis, o filho de Jerry Lewis; Jack Palance e sua filha Holly, entre muitos outros. Os quatro Beatles conversaram por uma hora e foram embora para descansar. À noite, Paul, George, Ringo, Derek Taylor, Mal Evans, Neil Aspinal e Roy Gerber foram jantar e assistir um filme na casa de Burt Lancaster. John ficou em casa para terminar de compor uma canção.



Em Denver, Joan Baez, que tocaria lá na noite seguinte, chegou cedo para curtir a companhia dos rapazes, pernoitando novamente com o mesmo beatle. Em Cincinnati, eles foram apresentados a Elvis Presley pela primeira vez. Elvis se queixa que comprou um baixo novo e ficou com os dedos cheio de bolhas. Depois com a imprensa, as entrevistas eram tediosas, sempre com as mesmas perguntas, que nunca eram sobre o assunto que eles queriam conversar: música. P(ergunta): Qual é sua desculpa para ter cabelos compridos? Ringo: Deixamos ele crescer. John: Não precisamos de desculpa. Você é que precisa de uma desculpa. P(para Ringo): Porque você recebe mais cartas dos fãs do que os demais? Ringo: Eu não sei mas deduzo que seja porque eles escrevem mais para mim. P: O que aconteceria se os fãs conseguissem passar pelo cerco policial? Ringo: Morreria rindo. P: De onde surgiu a idéia do seu penteado? John: Já contamos tantas mentiras a respeito que esquecemos. Paul: Na verdade tivemos a idéia na Alemanha quando uma fotógrafa amiga usou o seu cabelo assim.



Durante as apresentações, o trabalho da polícia era basicamente salvar a vida das pessoas que tropeçavam. Sim, porque uma vez que os Beatles subiam ao palco, a reação imediata era o estouro da mulherada, todas em direção ao muro de proteção. Quem tropeçava, e sempre havia algumas tropeçando, corria risco de vida. Depois haviam as meninas que desmaiavam, ou do calor ou de emoção. Em Nova York, mal os quatro saíram da limousine para entrar no hotel, alguém roubou do pescoço de Ringo, sua medalha de São Cristóvão. Dentro do hotel, através de uma linha telefônica direta com a estação WABC, com o famoso DJ Cousin Brucie na outra linha, Ringo tristonho pedia que se devolvesse a medalha dada a ele por uma tia. Cousin Brucie sugeriu que a recompensa fosse um beijinho de agradecimento e com isso a notícia se espalhou como fogo em palha. Em menos de uma hora, a pequena Angie McGowan, apareceu com a medalha, para devolver. A estação a escondeu para manter o assunto no ar por mais algum tempo, prolongando o drama. Os rapazes se divertiam conversando com diversas estações de rádios, geralmente pedindo canções de outros artistas como Fats Domino, Little Richard e Chuck Berry.



O show seria realizado no Forest Hills Tennis Stadium e, para chegar lá, foram de helicóptero. Momentos antes, ao averiguar o estádio, Bob Bonis descobriu que fora armada uma tenda vazia para os Beatles, como camarim. "Isto não serve, deveríamos estar com o camarim dentro do clube", ele tentou negociar. "Não será possível, a administração teme que eles possam estragar o lugar. Além do mais, já está tarde, os Beatles já estão no helicóptero a caminho", responderam. Bonis imediatamente puxou alguma geringonça do bolso, esticou dela uma antena e falou "Isso não é problema, ou você libera um camarim mobiliado ou eu ligo agora mesmo e mando o helicóptero voltar." "Não, não, não, eu vou conversar com eles", foi a resposta. Bonis, disfarçando um sorriso, abaixou a antena e guardou de volta no bolso seu rádio AM portátil. Quando os Beatles aterrissaram, o camarim estava pronto e aguardando. Lá conheceram Benny Goodman. Este foi para muitos a melhor apresentação da banda de toda a excursão. O público máximo do recinto era de 17.000 lugares, todos tomados. A NYPD destacou 200 homens no local e nenhum incidente maior foi registrado.



De volta no hotel, Derek Taylor segurava jornalistas e algumas celebridades, como o trio Peter, Paul and Mary, enquanto os rapazes jantavam. Bob Dylan e Al Aronowitz, que voltava de sua residência em Woodstock, foram levados direto para a suíte dos rapazes. Lá, com os quatro Beatles estavam apenas os mais íntimos, Brian Epstein, Mal Evans e Neil Aspinal, todos de Liverpool. Feitas as apresentações, em meio às conversas iniciais os rapazes ofereceram suas pílulas, uma cortesia entre músicos que geralmente necessitam de anfetaminas para agüentar o pique exigido pela carreira. Dylan declinou e ofereceu em troca maconha para relaxarem.



É largamente divulgado hoje em dia que Bob Dylan apresentou maconha para os Beatles, mas isto é só parcialmente verdade. Os Beatles fumaram maconha certa vez em Hamburgo, lugar onde eles conheceram, pela primeira vez, muitas coisas. Mas não curtiram muito pois ficaram apenas rindo à toa, não levando a nada. Brian foi o primeiro a se pronunciar, "Os Beatles nunca fumaram maconha". Dylan, confuso, perguntou sobre a canção em que a letra diz "And when I touch you, I get high, I get high" (E quando eu lhe toco, fico alto, fico alto). "Mas a letra não é essa", retrucou Lennon. "A frase é ‘I can't hide’" (Não consigo esconder). Enganos a parte, Dylan ofereceu acender um, se o pessoal estivesse interessado. Pediu que as portas fossem trancadas, as luzes apagadas, enquanto incensos e velas foram acesos. Foi explicado como inalar a fumaça e, durante o decorrer da noite, Dylan fez desenhos com a brasa do incenso e os papos fluíram soltos. Se em Hamburgo a experiência não teve graça, desta vez eles realmente relaxaram e se divertiram. Maconha passou a fazer parte dos acessórios de recreação da banda.

Continua...

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